terça-feira, 8 de maio de 2012

Carência disfarçada de amor

A sociedade prega que as pessoas vivam em pares. Isso não é de hoje. Das duas, uma: ou você tem namorado, amante, parceiro; ou está sozinha. Eu gostaria de dizer que sinto uma imensa preguiça desse papo. Papo furado de quem leu muito“Romeu e Julieta”.

O que eu vejo, todos os dias, são pessoas desesperadas para encontrar alguém. Mulheres lindas e inteligentes que se acham incompletas porque não têm um par. Esse tipo de coisa me entristece. Me faz duvidar dos casamentos aos montes que andam marcando por aí. Desse bando de casais saindo juntinhos da igreja e logo depois indo ao cartório - cada um com seu advogado. É tanta gente que casa sem querer. Que namora e dorme junto, mas sequer sabe com o quê o parceiro anda sonhando.

As pessoas banalizaram o amor e o colocaram em pacotes. Com laços de fita e tudo. Muito chique. Tudo na sacolinha da Trousseau e da Tool Box. Eu acredito no amor, mas não como um presente embutido na lista de casamento. Não como uma salvação para duas almas perdidas.

Acredito no amor que vem como um prêmio para as almas que conseguem se achar. E se conhecer. E se permitir.

Sobre mimar e respeitar



Por favor, não me entendam mal, adoro o Dia das Mulheres e adoro ganhar uma rosa ou receber uma mensagem bonita! Tanto quanto adoro ser mimada e adoro um romantismo barato vez ou outra. Porém, me sinto na obrigação de dizer que, atualmente, o Dia Internacional das Mulheres não significa mais uma homenagem às mulheres e à luta pela igualdade.

Ainda há machismo, como ainda também há feminismo. Não acredito em igualdade de ideais quando ainda há diferença no sexo e na genética. As mulheres já evoluíram de uma forma que nem mesmo os sutiãs queimados imaginariam que iríamos evoluir. Acho que conquistamos o nosso espaço e acho que é completamente utópico pensar que algum dia seremos iguais aos homens. Eu, particularmente, nem quero!

Por isso, deixo claro: se vocês, homens, que realmente respeitam essa data e realmente acreditam na força que temos, quando forem nos homenagear, que façam direito!

É lindo ganhar uma rosa, porém é mais bonito ainda não comparar sua namorada com sua mãe.

É muito gostoso ganhar um bombom, porém é muito mais delicioso quando vocês aceitam usar a camisinha, sem chilique, quando pedimos.

É ótimo escrever uma mensagem fofa, mas é muito melhor quando vocês se interessam, genuinamente, pelo que nós escrevemos.

É romântico sair pra jantar, porém é muito mais romântico quando vocês nos ajudam a lavar a louça quando nós cozinhamos.

Lembrando que além de mimada, toda mulher gosta de ser respeitada. E se vocês acharem que eu tô exigindo demais, que mulher é difícil demais, virem gays, ok?

domingo, 9 de outubro de 2011

Ela (ou eu?)


Ela poderia abraçar o mundo, se quisesse.
Ela fala as maiores besteiras bem fundamentadas do mundo.
Engraçada. Simpática. Tímida. Sorridente. Insegura.
Ela é do tipo que sabe e finge não saber. Ou que não sabe que sabe.
Ela gosta da simplicidade, mas não é.
Ela sabe ouvir. Ela sabe entender. Ela sabe tentar.
Ela sabe escrever. Ela sabe pensar. Ela sabe de muito.
Ela sabe de tudo, menos que ela sabe.
Ela é uma das coisas mais malucas.
Ela ama as estrelas. Ela ama a lua. Ela ama o céu.
Curiosa. Nunca cansa de aprender.
Cheia de complexos, curáveis. Cheia de medo e insegurança, infundados.
Cheia de medos.
Não gosta de silêncio. Sabe que gestos falam mais que palavras.
Ela gosta de rir, acha que a vida não vale a pena se não for divertida.
Ela pode ser a melhor pessoa do mundo, mas se disfarça de pior.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Para quando a insônia chegar

Tava relendo os posts deste blog e acabei chegando até o primeiro texto que escrevi. Não, de fato, o primeiro texto da minha vida, mas o primeiro que postei aqui. Fiquei pensando, tentando lembrar do que se passava na minha cabeça quando resolvi criar esse espaço.

Lembrei de algumas noites sem dormir, nas quais eu simplesmente deitava a cabeça no travesseiro e o sono não vinha. Ou às vezes o sono tava ali, e eu só não conseguia parar de pensar. Uma dessas noites quando a gente sempre quer alguém só pra conversar, só pra deixar sair um monte de abobrinhas e conseguir dormir tranquilo. Eu pensava, pensava, rolava na cama, pensava, olhava o celular, pensava, suspirava, mudava de posição.... e nada! Até quando chega aquele momento que você perde a paciência e, por falta de opção, vai escrever.

Sei que tenho um anseio muito grande de soltar pra fora tudo que há guardado em mim e, por mais que eu converse muito (e olha que converso mesmo!), nem sempre consigo falar o que realmente tenho vontade. Então, que fique clara a humilde existência desse blog: é pra quando a insônia chegar, e eu tenha algo a fazer além de me entupir de remédios.

(Mesmo que essa 'insônia' decida chegar às 08h23 da manhã).

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sobre percursos e sonhos

Quando eu era criança, sonhava em ter 18 anos. Parece bobo dizer isso agora, mas acho que muita gente compartilhava comigo esse mesmo sonho. Não sei exatamente por quê, mas achava que aos 18, completando a tão esmerada maioridade, as coisas que eu desejava iam se realizar mais facilmente. Tudo parecia ser possível pra mim.

Não foi.

Cresci, soprei 18 velhinhas e acordei no dia seguinte com uma sensação estranha de que nada havia mudado. A gente tende a acreditar, sabe-se lá o motivo, que depois de realizarmos alguns sonhos, ou chegarmos aonde queríamos, que as coisas vão mudar sozinhas, que tudo vai andar no seu próprio caminho sem esforços ou dificudades. Ledo engano.

É nessa hora que nos enxergamos mais apavorados e sem rumo, como se não tívessemos nos programado para o depois. O importante era chegar lá, mas agora que estou aqui, o que fazer? Nunca se sabe. É uma grande inocência acreditar que grandes mudanças serão pra sempre grandes mudanças. Depois que acontecem, bate aquele vazio. E agora? O que eu quero? O que vou fazer com isso?

Dizem que quanto mais você se realiza, mas insaciado você se torna. E eu não acreditava nisso, até perceber que todas as minhas realizações, que antes pareciam tão promissoras e cheias de potencial, na verdade não fizeram grande diferença na minha vida. O que fez diferença, na real, foi tudo o que aprendi durante o percurso todo. Aquelas pequenas grandes coisas que você aprende, que te fazem ser quem você é e te fazem acreditar no que você acredita, mas que não paramos para notar. O que importava era chegar lá.

Estamos muito preocupados em realizar, conseguir, fazer e acontecer.

Uma dica sincera de quem vos escreve: não se preocupem com isso! O que você consegue é só um resultado de tudo o que você mesmo fez. Dê valor aos percursos, às dificuldades, ao aprendizado disfarçado de impossibilidades. É aí que moram as verdadeiras mudanças.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sábado, 3am

(clean version)

Era sábado de madrugada. Ela sentia alguma coisa estranha. Sabia que algo se passava mas não queria pensar muito, não queria descobrir o que era.
Levantou, foi até a cozinha beber água. Não tinha sede, mas beber água era uma desculpa pra sair da cama e decidir o que fazer a seguir. A idéia era ocupar os neurônios com algo fútil, não pensar.
Foi até a varanda. Estava frio, mas isso não a impediu de acender um cigarro. O frio, que era tanto, não foi capaz de congelar os pensamentos. Era apenas frio, o que a obrigou a terminar aquele cigarro o mais rápido possível.
Voltou ao clima agradável da casa, sentou em frente ao computador e quis escrever. Ainda estava gelada. Sete minutos na varanda tinham sido suficientes para lhe gelar a pele, a carne, os nervos, o sangue, os ossos, mas não a droga do pensamento. Ainda sentia muito frio. Era culpa da falta de roupa, pensou, afinal estava apenas de meias, calcinha e blusa. Queria que tudo fosse quente, tudo a não ser os pensamentos que a mantinham acordada. Esses sim poderiam congelar, mas esses, nela, nunca congelavam. Estavam, quase sempre, em ebulição.
Olhou para a tela do computador. O que iria fazer? Iria fazer alguma coisa? Talvez voltar pra cama. Queria escrever, precisava escrever, deixar sair palavras, palavras atrás de palavras, mesmo que sem nexo algum.
Estava com frio, ainda com muito frio, mas resolveu tirar as meias. Colocou os pés descalços no chão gelado. Queria que o frio dos azulejos fosse tanto a ponto de se convencer que era melhor voltar ao edredon quentinho e dormir. O imenso frio da varanda não foi suficiente, e, como era de se esperar, o frio do chão também não. Tirou a camiseta.
Precisava escrever mas não sabia o quê. Tinha tantas, tantas coisas para escrever, mas não conseguia escrever nada. E não era por causa da falta de sono, não era pelo frio que sentia, não era pelo chão gelado nos pés, não era pelo corpo despido.
Desligou o computador e resolveu voltar para o quarto.
Sábado de madrugada. Gente nos bares, nas boates, nas ruas. Risos, álcool, danças, sexo. E ela ali, sentindo o cheiro do próprio travesseiro, desejando que aquele cheiro fosse outro. Um cheiro que ela não sabia descrever e nem sequer sabia se existia.
Era ridículo. Mas ela não se sentia ridícula. Não conseguira escrever nada, mas se sentiu bem somente pelo fato de estar aquecida. Os pensamentos em ebulição, evaporando...
Não sorriu, não chorou, apenas se abraçou mais um pouco, apertou o travesseiro cheiroso, agora sem frio.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Você é feliz?

- Quando?
- Quando? Quando o quê? Te fiz uma pergunta simples. Você é feliz?
- Esse é o seu tipo de pergunta simples?
- É.
- Ok, talvez seja simples mesmo. A resposta é que pode variar. Depende de como se olha para ela.
- Você é?
- Quando?
- Quando o quê? É ou não é?
- Não sei responder. Você pergunta se sou feliz e eu te pergunto quando.
- Me explica...quando o que?
- Quando me sinto feliz, sou feliz. Quando me sinto infeliz, sou infeliz. Mas por que você tá me perguntando isso?
- Ontem, quando cheguei em casa, percebi que você estava chorando. Tentou disfarçar mas estava, ou esteve, chorando...
- Ontem eu não era feliz, achei que devia chorar.
- E hoje?
- Sim, hoje sou. Estou bem. Só porque ontem chorei significa que sou infeliz?
- Então...
- Então nada. Você me vê chorando sempre?
- Não, você me parece quase sempre bem. Sorrindo, falando pelos cotovelos, cantando... até eu já não aguentar mais tanta cantoria. (risos)
- Então por que a indagação sobre minha felicidade?
- Porque quero a confirmação de que você está feliz.
- Tal como estou agora e estou quase sempre? As pessoas só pensam na felicidade alheia quando se deparam com a tristeza. E quando eu estou bem? Você se lembra de perguntar?
- Não, porque presumo que você está feliz quando está sorrindo.
- Pois você deveria saber que o pior tipo de tristeza é aquele que não vem acompanhado de lágrimas, mas de sorrisos.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A m o r . . .



"Eu sempre achei que o amor, que o grande amor, fosse incondicional. Que quando houvesse um grande encontro entre duas pessoas, tudo pudesse acontecer. Porque se aquele fosse o grande amor, ele sempre voltaria triunfal... Mas nem todo amor é incondicional. Acreditar na eternidade do amor é precipitar o seu fim. Porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo... Um grande amor não é possível. E talvez por isso é que seja grande – para que nele caiba o impossível.

Eu sempre achei que o amor, que o grande amor, fosse incondicional. Que quando duas pessoas se encontram, quando este Encontro acontece, pode trair, brochar, azar, todas as porradas... Sendo o grande amor, ele voltará triunfal, sempre. Mas não, nenhum amor é incondicional. Então, acreditar na incondicionalidade é decididamente precipitar o fim do amor. Porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo... E um amor não aguenta tudo. Nada nessa vida é assim. Daí você fala que esse amor não tem fim, para que o fim, então, comece. Um grande amor não é possível – e talvez por isso é que seja grande. Assim, nele obrigatoriamente cabe, tem de caber, também o impossível. Mas quem acredita? Quem acredita no impossível, se não apaixonadamente? Como a um Deus, incondicionalmente?"


(Afinal, o que querem as mulheres? - André Newmann)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Morte



O ponto final sempre chega. A morte é infalível. As pessoas morrem. Ponto. Parágrafo.

Não que a gente se lembre disso sempre. Eu acho na verdade que fazemos questão de esquecer. Quando morre uma Dercy Gonçalves da vida, símbolo de longevidade, me pego matutando ali por uns cinco minutos (com direito a toda aquela sensação de garganta entalada e frio na espinha característicos do excesso de consciência), imagino como será quando eu morrer e como as pessoas que convivem comigo irão levar a vida sem mim. Eis que cai a minha ficha... tudo há de correr perfeitamente sem a minha presença, a normalidade deve se restabelecer alguns dias depois do primeiro verme beliscar minha carne podre. Mas, felizmente, esses devaneios tolos passam depressa. Santo computador, internet, facebook, música... ah, maravilha, salva da lucidez por mais algum tempo. Mas ela volta.

Às vezes é confortável pensar na morte como a visita de uma caveira mal-encarada, portando uma foice, sedenta por almas, talvez com alguma compaixão, além de certa repulsa pelo trabalho monótono, eterno. Pensemos bem, sua situação não é muito melhor que a nossa. Apesar de ser imbatível e eterna, a morte é para sempre morte.

Se nossa vida na Terra existe para forjar algum sentido, alguma filosofia, algumas igrejas, a pobre coitada da morte tem a certeza de caminhar rumo algum para a existência. E sabe desde sempre. Não deve ser fácil não fazer nenhum sentido eternamente.

O ser humano é um fanfarrão, e é um ingênuo. Convencido de sua própria grandeza, acredita ser a obra-prima da Criação. Foge covardemente da sua angústia, driblando sua condição miserável e impotente, vivendo como o protagonista de um espetáculo particular sem roteiro muito definido. No fundo somos todos imortais, pelo menos enquanto não paramos de respirar.

Ou até que nos visite a caveira entediada, batendo ponto no serviço.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O surto

Sabe que eu cansei? Cansei de não-reclamar.

Hoje eu tava pensando naquela louca da Colheita Feliz eu-sou-portadora-de-esquizofrenia, na doida me-dá-meu-chip-Pedro, no povo desses reality shows que choram e gritam por uma vírgula, enfim, em todas essas pessoas que surtaram em momentos banais, embora eu acredite que o escândalo todo nunca seja por algo banal.
Acredito que seja só a gota d'agua, aquele momento de dizer "não importa que é o culpado, eu quero que todo mundo vá a merda".

O problema é que a maioria das pessoas não sabe que antes de surtar, aquela pessoa aguentou um monte. Não interessa o quê. Foi chifrado, perdeu uma promoção no trabalho só porque o chefe escolheu um amigo, bateu o carro, a casa inundou, está longe das pessoas que ama, o cara que gosta vai se casar, a mãe morreu, WHATEVER!

O momento do surto pode ser qualquer um. Você andando na rua, puto da vida por algum problema, e uma pessoa te esbarra. Pronto, no segundo depois você está no chão aos tapas com uma pessoa qualquer que não tem nada a ver com a sua vida. Você entra em uma lanchonete, o lanche veio errado? Pega o hamburger, esfrega na cara do atendente e diz "EU QUERO O MEU DINHEIRO" e pronto.

Alívio.

Você, que aguentou aquele monte de merda, mas um sanduíche errado você não pode aguentar. A briga não é nem pelo sanduíche em si, que se dane o dinheiro perdido. Simplesmente era a hora de dizer chega. Quando você se entope de raiva e energia e seu único objetivo é fuder todo mundo. Quando você é oficialmente tido como louco. A escória da sociedade.

Tô quase lá.