domingo, 9 de outubro de 2011

Ela (ou eu?)


Ela poderia abraçar o mundo, se quisesse.
Ela fala as maiores besteiras bem fundamentadas do mundo.
Engraçada. Simpática. Tímida. Sorridente. Insegura.
Ela é do tipo que sabe e finge não saber. Ou que não sabe que sabe.
Ela gosta da simplicidade, mas não é.
Ela sabe ouvir. Ela sabe entender. Ela sabe tentar.
Ela sabe escrever. Ela sabe pensar. Ela sabe de muito.
Ela sabe de tudo, menos que ela sabe.
Ela é uma das coisas mais malucas.
Ela ama as estrelas. Ela ama a lua. Ela ama o céu.
Curiosa. Nunca cansa de aprender.
Cheia de complexos, curáveis. Cheia de medo e insegurança, infundados.
Cheia de medos.
Não gosta de silêncio. Sabe que gestos falam mais que palavras.
Ela gosta de rir, acha que a vida não vale a pena se não for divertida.
Ela pode ser a melhor pessoa do mundo, mas se disfarça de pior.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Para quando a insônia chegar

Tava relendo os posts deste blog e acabei chegando até o primeiro texto que escrevi. Não, de fato, o primeiro texto da minha vida, mas o primeiro que postei aqui. Fiquei pensando, tentando lembrar do que se passava na minha cabeça quando resolvi criar esse espaço.

Lembrei de algumas noites sem dormir, nas quais eu simplesmente deitava a cabeça no travesseiro e o sono não vinha. Ou às vezes o sono tava ali, e eu só não conseguia parar de pensar. Uma dessas noites quando a gente sempre quer alguém só pra conversar, só pra deixar sair um monte de abobrinhas e conseguir dormir tranquilo. Eu pensava, pensava, rolava na cama, pensava, olhava o celular, pensava, suspirava, mudava de posição.... e nada! Até quando chega aquele momento que você perde a paciência e, por falta de opção, vai escrever.

Sei que tenho um anseio muito grande de soltar pra fora tudo que há guardado em mim e, por mais que eu converse muito (e olha que converso mesmo!), nem sempre consigo falar o que realmente tenho vontade. Então, que fique clara a humilde existência desse blog: é pra quando a insônia chegar, e eu tenha algo a fazer além de me entupir de remédios.

(Mesmo que essa 'insônia' decida chegar às 08h23 da manhã).

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Sobre percursos e sonhos

Quando eu era criança, sonhava em ter 18 anos. Parece bobo dizer isso agora, mas acho que muita gente compartilhava comigo esse mesmo sonho. Não sei exatamente por quê, mas achava que aos 18, completando a tão esmerada maioridade, as coisas que eu desejava iam se realizar mais facilmente. Tudo parecia ser possível pra mim.

Não foi.

Cresci, soprei 18 velhinhas e acordei no dia seguinte com uma sensação estranha de que nada havia mudado. A gente tende a acreditar, sabe-se lá o motivo, que depois de realizarmos alguns sonhos, ou chegarmos aonde queríamos, que as coisas vão mudar sozinhas, que tudo vai andar no seu próprio caminho sem esforços ou dificudades. Ledo engano.

É nessa hora que nos enxergamos mais apavorados e sem rumo, como se não tívessemos nos programado para o depois. O importante era chegar lá, mas agora que estou aqui, o que fazer? Nunca se sabe. É uma grande inocência acreditar que grandes mudanças serão pra sempre grandes mudanças. Depois que acontecem, bate aquele vazio. E agora? O que eu quero? O que vou fazer com isso?

Dizem que quanto mais você se realiza, mas insaciado você se torna. E eu não acreditava nisso, até perceber que todas as minhas realizações, que antes pareciam tão promissoras e cheias de potencial, na verdade não fizeram grande diferença na minha vida. O que fez diferença, na real, foi tudo o que aprendi durante o percurso todo. Aquelas pequenas grandes coisas que você aprende, que te fazem ser quem você é e te fazem acreditar no que você acredita, mas que não paramos para notar. O que importava era chegar lá.

Estamos muito preocupados em realizar, conseguir, fazer e acontecer.

Uma dica sincera de quem vos escreve: não se preocupem com isso! O que você consegue é só um resultado de tudo o que você mesmo fez. Dê valor aos percursos, às dificuldades, ao aprendizado disfarçado de impossibilidades. É aí que moram as verdadeiras mudanças.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sábado, 3am

(clean version)

Era sábado de madrugada. Ela sentia alguma coisa estranha. Sabia que algo se passava mas não queria pensar muito, não queria descobrir o que era.
Levantou, foi até a cozinha beber água. Não tinha sede, mas beber água era uma desculpa pra sair da cama e decidir o que fazer a seguir. A idéia era ocupar os neurônios com algo fútil, não pensar.
Foi até a varanda. Estava frio, mas isso não a impediu de acender um cigarro. O frio, que era tanto, não foi capaz de congelar os pensamentos. Era apenas frio, o que a obrigou a terminar aquele cigarro o mais rápido possível.
Voltou ao clima agradável da casa, sentou em frente ao computador e quis escrever. Ainda estava gelada. Sete minutos na varanda tinham sido suficientes para lhe gelar a pele, a carne, os nervos, o sangue, os ossos, mas não a droga do pensamento. Ainda sentia muito frio. Era culpa da falta de roupa, pensou, afinal estava apenas de meias, calcinha e blusa. Queria que tudo fosse quente, tudo a não ser os pensamentos que a mantinham acordada. Esses sim poderiam congelar, mas esses, nela, nunca congelavam. Estavam, quase sempre, em ebulição.
Olhou para a tela do computador. O que iria fazer? Iria fazer alguma coisa? Talvez voltar pra cama. Queria escrever, precisava escrever, deixar sair palavras, palavras atrás de palavras, mesmo que sem nexo algum.
Estava com frio, ainda com muito frio, mas resolveu tirar as meias. Colocou os pés descalços no chão gelado. Queria que o frio dos azulejos fosse tanto a ponto de se convencer que era melhor voltar ao edredon quentinho e dormir. O imenso frio da varanda não foi suficiente, e, como era de se esperar, o frio do chão também não. Tirou a camiseta.
Precisava escrever mas não sabia o quê. Tinha tantas, tantas coisas para escrever, mas não conseguia escrever nada. E não era por causa da falta de sono, não era pelo frio que sentia, não era pelo chão gelado nos pés, não era pelo corpo despido.
Desligou o computador e resolveu voltar para o quarto.
Sábado de madrugada. Gente nos bares, nas boates, nas ruas. Risos, álcool, danças, sexo. E ela ali, sentindo o cheiro do próprio travesseiro, desejando que aquele cheiro fosse outro. Um cheiro que ela não sabia descrever e nem sequer sabia se existia.
Era ridículo. Mas ela não se sentia ridícula. Não conseguira escrever nada, mas se sentiu bem somente pelo fato de estar aquecida. Os pensamentos em ebulição, evaporando...
Não sorriu, não chorou, apenas se abraçou mais um pouco, apertou o travesseiro cheiroso, agora sem frio.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Você é feliz?

- Quando?
- Quando? Quando o quê? Te fiz uma pergunta simples. Você é feliz?
- Esse é o seu tipo de pergunta simples?
- É.
- Ok, talvez seja simples mesmo. A resposta é que pode variar. Depende de como se olha para ela.
- Você é?
- Quando?
- Quando o quê? É ou não é?
- Não sei responder. Você pergunta se sou feliz e eu te pergunto quando.
- Me explica...quando o que?
- Quando me sinto feliz, sou feliz. Quando me sinto infeliz, sou infeliz. Mas por que você tá me perguntando isso?
- Ontem, quando cheguei em casa, percebi que você estava chorando. Tentou disfarçar mas estava, ou esteve, chorando...
- Ontem eu não era feliz, achei que devia chorar.
- E hoje?
- Sim, hoje sou. Estou bem. Só porque ontem chorei significa que sou infeliz?
- Então...
- Então nada. Você me vê chorando sempre?
- Não, você me parece quase sempre bem. Sorrindo, falando pelos cotovelos, cantando... até eu já não aguentar mais tanta cantoria. (risos)
- Então por que a indagação sobre minha felicidade?
- Porque quero a confirmação de que você está feliz.
- Tal como estou agora e estou quase sempre? As pessoas só pensam na felicidade alheia quando se deparam com a tristeza. E quando eu estou bem? Você se lembra de perguntar?
- Não, porque presumo que você está feliz quando está sorrindo.
- Pois você deveria saber que o pior tipo de tristeza é aquele que não vem acompanhado de lágrimas, mas de sorrisos.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A m o r . . .



"Eu sempre achei que o amor, que o grande amor, fosse incondicional. Que quando houvesse um grande encontro entre duas pessoas, tudo pudesse acontecer. Porque se aquele fosse o grande amor, ele sempre voltaria triunfal... Mas nem todo amor é incondicional. Acreditar na eternidade do amor é precipitar o seu fim. Porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo... Um grande amor não é possível. E talvez por isso é que seja grande – para que nele caiba o impossível.

Eu sempre achei que o amor, que o grande amor, fosse incondicional. Que quando duas pessoas se encontram, quando este Encontro acontece, pode trair, brochar, azar, todas as porradas... Sendo o grande amor, ele voltará triunfal, sempre. Mas não, nenhum amor é incondicional. Então, acreditar na incondicionalidade é decididamente precipitar o fim do amor. Porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo... E um amor não aguenta tudo. Nada nessa vida é assim. Daí você fala que esse amor não tem fim, para que o fim, então, comece. Um grande amor não é possível – e talvez por isso é que seja grande. Assim, nele obrigatoriamente cabe, tem de caber, também o impossível. Mas quem acredita? Quem acredita no impossível, se não apaixonadamente? Como a um Deus, incondicionalmente?"


(Afinal, o que querem as mulheres? - André Newmann)